Professora Maria Filomena Mendes
foto: João Barnabé
Docente da UE participa em estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos sobre fecundidade

A fecundidade e a família em Portugal são o tema do estudo recentemente publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, em parceria com o Instituto Nacional de Estatística. Maria Filomena Mendes, Professora do Departamento de Sociologia da Universidade de Évora foi uma das investigadoras convidadas para participar na investigação.

O estudo revela que há cada vez menos crianças a nascer em Portugal. Maria Filomena Mendes explica que “a maioria dos casais jovens até aos 35 anos está a adiar, em muitos casos, o nascimento do primeiro filho e em alguns casos o nascimento do segundo filho porque não têm condições para isso, e esse adiamento está a ser cada vez maior. Os fatores mais apontados nos inquéritos feitos para esse dito adiamento são as condições financeiras, os baixos rendimentos das famílias, o desemprego e a precariedade”, disse a docente da Universidade de Évora.

Maria Filomena Mendes, especialista em demografia, adianta que “a curto prazo a natalidade vai diminuir ainda mais porque os motivos associados ao adiamento da paternidade mantêm-se. Provavelmente quem terá filhos no futuro próximo são aqueles casais que já vinham a adiar a paternidade e que estão perto do seu limite biológico em termos de fertilidade e que independentemente das condições sociais e económicas decidiram ter filhos. Já aqueles que podem adiar a paternidade até terem uma perspetiva melhor de vida vão continuar a adiar,” refere a investigadora.

A docente da Universidade de Évora alerta ainda para as consequências da queda da natalidade e da não renovação de gerações que se iniciou nos anos 80, com resultados mais críticos a partir da década de 90 e fundamentalmente a partir de 2010, ano em que os portugueses começaram verdadeiramente a sentir a crise. “Temos uma população muito envelhecida, por isso acentuam-se as dificuldades de sustentabilidade do sistema de segurança social e nos sistemas de saúde, vamos sentir também problemas no sistema de educação porque já tivemos escolas primárias a fechar e uma clara diminuição da necessidade dos professores do Básico e Secundário e esta baixa de natalidade já se está também a fazer sentir no Ensino Superior que conta cada vez com menos alunos, já para não falar que as gerações que estão a entrar no mercado de trabalho tem uma menor dimensão daqueles que já estão inseridos no mercado de trabalho, o que pode significar um grande impacto ao nível da produtividade e da inovação”, avança Maria Filomena Mendes.

“Já devíamos ter tido estas preocupações há anos atrás. Não é numa situação de crise que conseguimos reverter a tendência, bem pelo contrário, esta situação vai agravar-se. Quem pode retardar a paternidade vai adiar para uma altura em que as expetativas de futuro sejam diferentes,” refere a docente do departamento de Sociologia da Universidade de Évora.

Maria Filomena Mendes explica que existe apenas uma fórmula para que esta situação se inverta: “sairmos da crise, haver crescimento económico, haver menos desemprego, especialmente o desemprego jovem e as pessoas voltarem a acreditar que podem ter um futuro melhor e que podem dar um futuro bom aos seus filhos.”

Para mais informações sobre o estudo clique aqui.

 

 

Publicado em 29.11.2013
Fonte: GabCom | UÉ