Cante Alentejano: Património Cultural Imaterial da Humanidade

O Cante Alentejano, um género musical típico do Alentejo, foi considerado Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO a 27 de Novembro de 2014.

A UNESCO (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) é uma organização que tem como principal missão o desenvolvimento sustentável e o diálogo intercultural, através da educação, ciências, cultura, comunicação e informação. Portugal aderiu à UNESCO em 1965, retirou-se desta Organização Internacional em 1972 e reingressou em 11 de setembro de 1974. Depois de ter sido aprovada a candidatura a Património Cultural Imaterial da Humanidade do Fado, foi agora a vez do Cante Alentejano. Évora, cidade património da Humanidade, já tem um centro UNESCO dedicado à defesa do património. A aprovação da candidatura, elaborada conjuntamente pela Câmara Municipal de Serpa, Municípios do Baixo Alentejo, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo, Direção Regional de Cultura do Alentejo, Entidade Regional de Turismo do Alentejo, Comissão Nacional da UNESCO e dos grupos corais de cantadores e respetivas associações, tem gerado uma maior visibilidade e promoção do Cante Alentejano. Iniciativas culturais várias têm tido lugar um pouco por todo o país e um documentário de Sérgio Tréfaut, “Alentejo, Alentejo”, foi já premiado com o Prémio de Melhor Filme Português (INDIELISBOA 2014), Prémio TAP Melhor Documentário (INDIELISBOA 2014) e Prémio Melhor Filme (DOCSBARCELONA+MEDELÍN 2014).

Ora, que interesse poderá ter para a Sociologia o reconhecimento do Cante Alentejano como Património Cultural Imaterial da Humanidade?

Em primeiro lugar, trata-se do reconhecimento de uma expressão de identidade cultural do Alentejo. Uma compreensão mais aprofundada deste género musical tradicional alentejano encontra nele um prolongamento social do quotidiano laboral (o trabalho árduo do campo experienciado por homens e mulheres) e pessoal (temas e problemas do dia a dia, sonhos e enganos) das gentes alentejanas, maioritariamente dos trabalhadores rurais. Os grupos corais alentejanos utilizam vestuário tradicional próprio, “de época”, nomeadamente o de ceifeiros e, no conjunto, transportam em si memórias dos tempos em que a maior fonte de rendimento de muitos era o trabalho d(n)o campo.

Em segundo lugar, este reconhecimento acarreta para todos os portugueses uma responsabilidade social no que respeita à preservação e recolha de informação acerca do Cante Alentejano, para que toda a história que envolve este género musical seja preservada ao longo das gerações.

Em terceiro lugar, o Cante Alentejano tornou-se conhecido mundialmente. À escala global, e do ponto de vida Sociologia, é de facto muito interessante ver como um género musical local apresenta e representa além-fronteiras a identidade do Alentejo e do povo alentejano.

Por último, somos talvez todos um pouco etnocêntricos quando, como portugueses, encaramos este reconhecimento com enorme orgulho e vemos nele um testemunho ímpar da cultura portuguesa a outras comunidades. O alto patamar em que a UNESCO leva o Cante Alentejano chama a atenção para a importância do contributo que a sociedade, ou seja, todos nós, podemos dar para a construção da identidade cultural do país de que fazemos parte.

 

Maria de Nazaré Pencas

Embaixadora Garis da APJS na Universidade de Évora

Publicado em 10.05.2015